CARLOS FORTES LOPES: O centralismo "democrático" caboverdiano
Será preciso compreendermos dialecticamente este princípio partidário e, esta compreensão requer uma análise aprofundada e desapaixonada dos factos
O Centralismo Democrático existente em Cabo Verde requer uma nova prática de entendimento entre a dinâmica dos partidos políticos e as realidades territoriais, economico-financeiras, sociais e culturais do país.
Convém discutirmos essa dinâmica política nacional, abertamente, para que possamos ser capazes de encontrar uma mudança de quadro e uma percepção renovada sobre as condições subjectivas e objectivas presentes neste existente processo político nacional.
As necessidades e consequências
Uma decisão soberana numa instância deliberativa do Poder pode, em alguns casos (inúmeros neste país), representar a necessidade de uma re-discussão não só por parte dos envolvidos como em concertação com a população que é sempre o alvo das consequências.
Havendo elementos que justifiquem, como aliás é uma constante neste país onde ainda continua-se prevalecendo o autoritarismo político partidário, deve-se aplicar as directrizes da Constituição e referendar sempre que as circunstâncias exigirem, mesmo através de sondagens públicas. Pedir e ou exigir não é contestar, é contribuir.
O referendo deve e tem que ser sempre baseado em critérios de oportunidade, razoabilidade e legalidade das propostas.
Se for tempestivo, razoável e legal referendar um assunto que merece maior reflexão colectiva, deve-se fazê-lo, sem muitos rodeios.
Contudo, esta ação não pode, de forma alguma, atropelar os critérios de oportunidade, razoabilidade e legalidade, pesados conjuntamente.
Convém ainda, salientar de que a re-discussão de qualquer assunto já deliberado não significa mudar necessariamente o que já foi decidido e essa decisão pode ainda resultar no convencimento mais estrito de uma camada da sociedade.
Ao re-discutirmos um assunto de interesse nacional e ou regional, devemos eliminar o pre julgamento e não considerar qualquer tese "perdida" ou mesmo "vencida". As experiências mostram-nos de que, até hoje, ninguém conseguiu crescer politicamente com estas tolas vaidades.
E, neste meu pais de nome Cabo Verde, o que mais me preocupa é a atitude de arrogância política dos governantes e parlamentares e o posicionamento, logo a priori, em debates políticos, com posições do tipo "com esse eu não vou" ou "nessa aliança eu não entro". Essas atitudes têm demonstrado serem uma total desgraça para o nosso país.
Nem precisamos dizer que é justamente esse tipo de comportamento que tem prejudicado a unidade e coesão nacionais.
Todos juntos, precisamos começar a enxergar dentro do colectivo e para o colectivo cabo verdeano, apesar de sabermos que, para a maioria dos políticos da Capital, isso parece e é inicialmente, mais difícil e revolucionário do que fazer um belo discurso teórico, escrever teses profundas e ou mesmo citar figuras da política internacional.
Inúmeras são as atitudes dos nossos governantes nacionais que são sinais claros da falta de humildade política e uso abusivo de comportamentos que revelam, claramente uma concepção utilitarista dos princípios do Centralismo Democrático.
Neste nosso pequeno e pobre país, até já se exibe a arrogância partidária de rejeitar alianças políticas, apenas por haver, à priori, alguma discordância de pontos de vista.
É lógico que partidos extremamente conservadores tenham dificuldades em cogitar, mas quando se trata de possíveis alianças progressista e ou da esquerda ou direita políticas, com visões claras do desenvolvimento coeso da nação cabo verdeana, as negociações deveriam tornar-se mais acessíveis e conclusivas.
Aos que até ainda não conseguiram enxergar a realidade deste nosso país, convém que acordem porque o Centralismo Democrático está bem implantado em Cabo Verde.
Cabo Verde está a precisar de um novo modelo de governação, com um menor número de parlamentares e membros do executivo, competentes e sérios, capazes de apresentar outras soluções que não sejam apenas à volta dessa hegemonia político-governamental que já fez casa neste país.
Só assim seremos capazes de construir um país realmente democrático, de igualdade e de oportunidades para todos os cidadãos, em todas as ilhas do Arquipélago.
Sendo Cabo Verde, um país constituído por ilhas, portanto naturalmente regionalizado, devemos passar a aceitar a realidade arquipelágica do nosso país e procurar soluções internas para que possamos ser capazes de colmatar as nossas carências econômicas, sociais, culturais e desportivas.
Os "politicos" que andam por aí a defender a continuação do Status Quo, são cidadãos que ainda não conseguiram alcançar o patamar evolutivo da Democracia Descentralizada e Participativa.
Esses, são incapazes de compreender o modo distorcido e retrógrado do Centralismo Democrático que implantaram neste país.
Daí essa tendência corrupta de fazer de tudo para manter o Status Quo, de tal forma a que se mantenha as populações na incógnita sobre os reais problemas do país e as soluções reais para as crises sociais, econômicas e culturais existentes.
O princípio e a substância do Centralismo Democrático é e continuará a ser a democracia política no debate, e, a prática revolucionária do Centralismo Democrático não passa de uma unidade de ação em torno da única ideia debatida pela maioria parlamentar e ou governamental.
A Voz do Povo Sofredor
Carlos Fortes Lopes/Este endereço de email está protegido contra piratas. Necessita ativar o JavaScript para o visualizar.
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